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Foto do escritorStefany Tagliatella

A Linguagem como Arma e Resistência: Análise Estética e Política em '1984

A obra "1984" de George Orwell é um mergulho em uma distopia totalitária, onde o Partido não apenas detém o monopólio da informação, manipulando e modificando fatos do cotidiano e da história humana, mas também almeja controlar o pensamento individual, tendo como principal recurso de dominação a linguagem. Nesse contexto opressivo, emerge a necessidade de compreender não apenas o manuseio da linguagem como ferramenta do controle totalitário, mas também a resistência sutil e poderosa que se manifesta por meio da estética. Essa dualidade entre a imposição de um pensamento - que inclui uma nova maneira de se comunicar - e a capacidade do pensar se expressar através da linguagem, é central para a nossa análise. Tendo como base teórica o ensaio “Política da Ficção” do pensador de Jacques Rancière, onde se destaca o discurso da ausência evidenciada por exageros e sendo essa expressa de forma estética através da linguagem, e o livro-ensaio “A Sobrevivência dos Vaga-lumes” de Georges Didi-Huberman, que discursa sobre como as resistências acontecem em meio as pequenas frestas do sufocamento político de governos totalitários. Esta dissertação se propõe a expor as relações entre linguagem, pensamento e resistência em “1984”, oferecendo uma perspectiva crítica sobre a complexidade do controle ideológico e as formas de subversão que emergem nos interstícios da manipulação. No caso específico, o estudo estético pode nos apresentar o modo como seu entendimento e dominação podem fluir para o bem ou o mal social, sendo um recurso de resistência e de enfraquecimento do povo.

De modo prático, todos os recursos de dominação usados na distopia de “1984” são recursos linguísticos. Esses trabalham em conjunto para criar uma realidade controlada pelo Partido, onde a verdade é maleável e a manipulação da informação é uma ferramenta poderosa para manter o poder e subjugar a população. O trabalho de Winston é uma representação da manipulação sistemática da verdade pelo Partido através da linguagem. Ele se envolve em uma tarefa paradoxal de recriar a história enquanto, simultaneamente, destrói qualquer vestígio de verdade objetiva. Essa distorção da realidade, perpetrada pelo Ministério da Verdade, é uma ferramenta fundamental para manter o controle ideológico sobre a população, reforçando o poder do Partido e obscurecendo os eventos reais do passado. O trabalho de Winston também serve como uma alegoria da natureza opressiva do regime totalitário, onde a manipulação da informação é uma arma crucial para moldar a percepção e o pensamento da sociedade. Um dos mecanismos para alcançar esse objetivo é a criação de um novo dialeto, nomeado ‘Novafala’. No livro, um dos colegas de Winston, Syme, deixa clara as intenções da criação de tal dialeto, em uma conversa casual com o protagonista, ele diz:“Você não vê que a verdadeira finalidade da Novafala é estreitar o âmbito do pensamento? [...] Menos e menos palavras a cada ano que passa, e a consciência com um alcance cada vez menor. [...] A revolução estará completa quando a linguagem for perfeita.” 

Desse modo, a Novafala, uma peça estética utilizada na manipulação linguística no universo orwelliano, é uma ferramenta totalitária que vai além da simples redefinição de palavras; ela reflete a tentativa do Partido de controlar não apenas a linguagem, mas também o pensamento individual. O ato de Winston escrever um diário, uma atividade proibida de expressão no contexto da Novafala, destaca-se como um ato de resistência e preservação da subjetividade. Rancière, em “A Política da Ficção”, argumenta que a literatura e a ficção têm o poder de desafiar as estruturas opressivas, oferecendo um espaço onde as vozes subalternas podem emergir. Voltando para o diálogo entre Winston e seu colega/camarada, ele utiliza de uma explicação que visa suprir a necessidade desse novo dialeto que estreita a quantidade de palavras para expressão do pensamento: “Que coisa bonita a destruição de palavras! Claro que a grande concentração de palavras inúteis está nos verbos e adjetivos, mas há centenas de substantivos que também podem ser descartados.”. A coisa toda é baseada em uma discussão que inspira a escrita de Rancière em seu ensaio - o excesso e a ausência que esse excedente evidência. Nos parágrafos iniciais do ensaio, o pensador justifica o título trazendo à tona um texto de Roland Barthes, publicado em 1968, sobre o efeito do real dentro do realismo romanesco e explora a sua importância política - o texto que ilumina o título de “A Política da Ficção”  discursa sobre o conto de Flaubert, “Um Coração Simples”, onde no início, temos uma descrição detalhada do cômodo onde a protagonista vive. Os elementos descritos parecem ser descartáveis, inúteis para a narrativa, tidos como um excesso. Ranciere nos demonstra o pensamento do descarte não apenas com esse exemplo, mas também ao citar o que André Breton acusa sobre a descrição feita por Dostoiévski sobre o papel de parede e da mobília do quarto da usurária em “Crime e Castigo”, cito: “Mas é uma perda de tempo, pois recuso-me a entrar no quarto dele.”. Mais uma vez, a recusa do excesso, a exclusão das ‘sobras’. Sobre o assunto, Ranciere afirma que “A descrição surge como um excesso que esconde uma ausência [...].” Quando nosso protagonista inicia a escrita de seu diário, seu intuito era ser preciso, focado e direto, se comunicar com o futuro, a fim de conseguir registrar algo, mas o que acontece é que, motivado pela necessidade e pelo medo, ele apenas escrever, se deixando levar pelo livre pensamento, para ao final concluir que “Não sabia o que o levará a derramar aquela torrente de idiotices.” 

O que Winston classifica como torrente de idiotices é na verdade, um relato preciso de uma sociedade influenciada de forma estética, imagética e literária, a ver o outro como um ‘não ser’, alvo e objeto merecedor das maiores atrocidade, o resultado da banalização da violência e desumanização do inimigo. Um excesso que evidencia uma ausência. No caso da sociedade organizada e comandada pelo Grande Irmão, a ausência do pensamento e da clareza de fatos, que acaba por condená-los a repetir os erros do passado. A reflexão sobre o relato de Winston e o significado de suas palavras revela a complexidade da luta contra a manipulação linguística e a importância de resistir à tentativa de descartar a riqueza do pensamento humano em favor da simplicidade superficial. No caso de Winston, seu diário serve como uma manifestação concreta dessa resistência. Ao registrar seus pensamentos proibidos, ele desafia ativamente as restrições impostas pela Novafala, utilizando a escrita como um ato de afirmação da própria humanidade em meio à opressão. Como Rancière destaca, a ficção tem o potencial de criar “espaços de igualdade”, e o diário de Winston se torna um desses espaços, um reino onde suas ideias podem florescer apesar da tentativa de estreitar o âmbito do pensamento.

No livro “Sobrevivência dos Vaga-lumes”, Didi-Huberman aborda a estética da resistência em contextos de opressão, explorando a ideia de como os atos de resistência por meio das ranhuras existentes em contextos opressivos surgem através da falta que começa a pulsar no cotidiano. Isso porque, a escuridão que esse contexto gera é o que possibilita que a luz da resistência consiga ser vislumbrada. Essa que por sua vez, é um ato, um grito, um levante, de necessidade em meio a um ambiente que não supre o essencial humano, sendo esse lido como liberdade. O que se destaca no texto do pensador, é a ideia de que, esses movimentos de resistência só tem força para existir em meio a escuridão que a opressão gera, “a dança dos  vaga-lumes se efetua justamente no meio das trevas [...].” Winston encontra poder na palavra escrita, uma forma de expressar seus pensamentos, suas experiências e sua memória exatamente por conta de pequenas brechas na sua realidade engessada.

“Voltou para a sala de estar e sentou-se junto a uma mesinha que ficava à esquerda da teletela. [...] Por alguma razão, a teletela da sala de estar ocupava uma posição atípica. Em vez de estar instalada, como hábito, na parede do fundo, onde podia controlar a sala inteira, ficava na parede mais longa, oposta à janela. Em um de seus lados havia uma reentrância pouco profunda na qual Winston estava agora instalado [...] Sentando-se na reentrância e permanecendo bem ao fundo, winston conseguia ficar fora do alcance da teletela”

Ilustração de: Oleg Gert


Vendo uma luz vindo daquela brecha, Winston se sente impelido a resistir ao controle ao qual se vê submetido tornando seus registros agentes de resistência, testemunhas silenciosas de eventos passados e narradores de histórias não contadas. Ali ele relata um simples caminhar pelo centro, evidenciando  a pobreza, o medo e o contexto político no qual ele está inserido. Ao relatar pequenos fragmentos do cotidiano, Winston expõe precisamente as violências por ele vividas, violências que se tornaram costume, e por isso, passaram a ser despercebidas. Isso ocorre devido a ocupação do tempo e do pensamento que o partido tenta insistentemente tomar, limitando o conhecimento, impedindo deliberadamente a busca pelo pensamento.  Quando, motivado por uma sentimento de revolta, Winston decide se encaixar em uma das brechas e escapar da constante vigilância, para que assim ele possa cometer o crime de expressar livremente o seu pensamento, ele se sente impotente e vê em sua rotina, um amontoado de experiências pobres que pulsa em suas linhas uma espécie de inocência que começa a ser quebrada - “A inocência é um erro, a inocência é uma falta, compreendes?”.

O ato de Winston escrever um diário, se alinha com essa filosofia, representando um gesto de sobrevivência e resistência diante da tentativa de extinguir a individualidade. Ao escrever o seu diário, Winston reafirma a sua experiência e não a experiência geral, quebra com a inocência e inicia um processo de reflexão, percepção e organização do sentimento do ódio, sendo esse “[...] um modo de reconhecer a necessidade de montagens temporais para toda reflexão consequente sobre o contemporâneo.”. Ele deixa de ser parte das engrenagens que fazem com que toda a opressão aconteça e se destaca como um rebelde, apenas por registrar a sua jornada pessoal. Mesmo sendo visto como idiotice pelo próprio protagonistas, suas palavras tem propósito, “a função do pormenor inútil é a da mera atestação do real”. Em certo momento, Winston relata uma experiência sexual que teve no subúrbios, onde se deitou com uma mulher, ato repudiado pelo partido, e na visão do protagonista, apenas a descrição de um dos seus crimes hediondos, ceder ao desejo, apesar de ser uma fuga do cotidiano por ele vivido, não conseguia ver aquilo como uma experiência, apenas como culpa, “É essa incapacidade de se traduzir em experiência que torna hoje insuportável [...] a existência cotidiana.”, sendo da mesma forma, essa insuportabilidade da realidade a motivação para seguir em sua revolta pois “Agora que se via como um homem morto, tornava-se importante continuar vivo o maior tempo possível.”.  

Retornando ao conceito da Novafala, essa que desponta como uma ferramenta nefasta nas mãos do Partido, projetada para, não apenas distorcer a linguagem, mas também para restringir o próprio pensamento, cito uma passagem de Didi-Huberman, onde se lê “O fascismo propunha um modelo, reacionário monumental, mas que permanecia letra morta [...] a repressão se limitava a obter sua adesão por palavras.”. Essa passagem sugere que a repressão tem uma abordagem específica, limitando-se a conseguir a concordância ou conformidade por meio de palavras, ou seja, através da expressão verbal de concordância ou submissão. A ideia central é que a repressão se manifesta principalmente na tentativa de controlar as opiniões, expressões e posicionamentos das pessoas através do discurso, exigindo que as pessoas expressem sua concordância verbal com essas imposições, a repressão está focada em manipular a linguagem e as expressões verbais das pessoas para obter conformidade. O regime totalitário em “1984”, descrito por George Orwell, utiliza não apenas a força física, mas principalmente o controle da linguagem para garantir a conformidade e submissão dos cidadãos. No contexto do livro, através da Novafala, o Partido restringe o vocabulário e redefine conceitos para limitar a capacidade das pessoas de expressar ideias subversivas. A repressão não se manifesta apenas em ações brutais, mas também na imposição de uma linguagem que molda e controla o pensamento. Destacando como o regime procura não apenas silenciar a dissidência, mas também forçar as pessoas a adotar a linguagem prescrita pelo Partido. Esse controle linguístico é uma estratégia poderosa, pois influencia o que as pessoas dizem, e como pensam. A coerção verbal é uma ferramenta sutil, mas eficaz, na busca do regime por conformidade e controle ideológico absoluto.

A análise dessa estratégia revela a engenhosidade perversa do controle ideológico, utilizando da estética como um instrumento de coerção e subjugação. Ao limitar a capacidade das pessoas de articularem pensamentos, o Partido não apenas censura a expressão verbal, mas também busca restringir o próprio ato de reflexão crítica. A manipulação da linguagem, assim, transcende o âmbito comunicativo, transformando-se em uma ferramenta insidiosa para moldar e, em última instância, controlar a esfera cognitiva da sociedade distópica delineada por Orwell. Jacques Rancière, propõe em “A Política da Ficção” uma visão provocativa sobre a relação intrínseca entre estética e política. Sua obra destaca-se pela habilidade em desvelar as interconexões entre as formas de expressão artística, especialmente a ficção, e a dinâmica do poder. Rancière fundamenta sua análise na premissa de que a estética não é apenas um domínio separado, mas uma arena crucial para a construção e contestação das estruturas sociais e políticas. Ao explorar as ideias de Rancière, somos guiados por uma compreensão enriquecedora da política da ficção como um espaço onde as narrativas desafiam e transformam as normas estabelecidas. No cerne da teoria de Rancière reside a concepção da estética como uma forma intrínseca de resistência política, assim como afirmado por George Didi-Huberman. 

“Barthes analisa o “efeito do real” do ponto de vista «modernista», equiparando a modernidade literária, e a sua relevância política, com a purificação da estrutura-acção que abstrai das imagens parasitárias do «real». Contudo, enquanto configuração moderna da arte de escrever, a literatura é precisamente o contrário: a  supressão das fronteiras que delineiam este espaço de pureza. O que está em jogo neste “excesso” não é a oposição do singular à estrutura; é o conflito de duas partilhas do sensível.”

Nessa passagem, o conceito de “efeito do real” é feito a partir de uma perspectiva “modernista”, utilizando as análises de Roland Barthes. O texto aborda a relação entre a modernidade literária, sua relevância política e a ideia de purificação da estrutura-ação - ideia semelhante a do partido com o conceito da Nova fala.  A modernidade literária, conforme Barthes, é equiparada à purificação da estrutura-ação, que envolve abstrair as imagens parasitárias do “real”, excluindo os excessos. Isso sugere que, na visão modernista, a literatura busca alcançar uma pureza estrutural, removendo elementos considerados intrusivos ou externos à sua essência. Isso tem implicações políticas, pois a literatura, ao adotar essa abordagem, pode buscar uma clareza estrutural que tem implicações ideológicas e políticas. No entanto, a passagem também destaca uma aparente contradição: embora a modernidade literária busque a purificação estrutural, ela, como configuração moderna da arte de escrever, é caracterizada pela supressão das fronteiras que delimitam esse espaço de pureza. Aqui, “supressão das fronteiras” sugere uma expansão ou uma quebra de limites, indo contra a ideia inicial de purificação estrutural.

Provando que o estética entendimento e dominação da estética tem o poder de ser um recurso poderoso de resistência e de enfraquecimento do povo. Destacando a capacidade única da ficção para transcender os limites normativos, Rancière ressalta como a arte não apenas reflete, mas ativamente subverte as estruturas de dominação. A ficção, portanto, emerge como uma força dinâmica capaz de desafiar as narrativas hegemônicas, abrindo espaço para a reconfiguração das relações de poder. Quando Winston escreve suas memórias, ele passa a analisar o seu cotidiano, com um olhar mais atento e crítico, possibilitando assim que encontre entre seus pensamentos calcados um vislumbre de possibilidades, “[...] nalgum lugar na brecha aberta entre memória e desejo. Seria ainda preciso que a memória fosse “uma força e não um fardo”.” e a partido do momento em que ele expressa esteticamente seus descontentamentos cotidianos “[...] Seria ainda preciso reconhecer a essencial vitalidade das sobrevivências e da memória em geral quando ela encontra as formas justas de sua transmissão.” . Nessa perspectiva, a análise crítica da manipulação da linguagem em “1984” à luz das ideias de Rancière e Didi-Huberman revela não apenas a opressão totalitária, mas também a resistência potente e transformadora que pode surgir através da expressão estética. Oferecendo uma perspicaz compreensão da manipulação da linguagem como uma ferramenta de controle totalitário. Ao explorar a relação entre a restrição do pensamento em “1984” e “A Política da Ficção” de Rancière, percebemos como a Novafala não é apenas uma distorção linguística, mas uma estratégia intrínseca ao regime totalitário do Partido, bem como vemos que o ato de escrita de Winston, é a força motivadora de sua revolta, corroborado pelas ideias de Didi-Huberman. Rancière, ao analisar a política da ficção, lança luz sobre a natureza poderosa da linguagem como um meio não apenas de expressão, mas de controle ideológico. Já Didi-Huberman nos apresenta a esperança de resistência e sobrevivência em meio a escuridão gerada pelo poder totalitário. A resistência estética de Winston Smith, protagonista de “1984” de George Orwell, revela-se como um ato de desafio diante da manipulação totalitária da linguagem, Winston emerge como um agente de resistência, utilizando a literatura como um veículo para expressar e preservar sua individualidade. A análise de sua resistência nos conduz a uma compreensão mais profunda do poder transformador da estética, que transcende as limitações impostas pela manipulação linguística. A literatura, nesse contexto, não é apenas um meio de comunicação, mas uma forma intrínseca de resistência que desafia ativamente a tentativa do Partido de controlar não apenas as palavras, mas também as ideias. A palavra escrita torna-se sua arena de resistência, uma ferramenta pela qual ele desafia a censura ideológica e preserva sua capacidade de pensar livremente. A escrita de Winston não apenas representa um ato de rebeldia individual, mas também destaca a natureza fundamental da expressão estética como um meio de subversão. Ao arriscar-se na escrita de pensamentos considerados criminosos pelo Partido, Winston desafia as limitações impostas pela manipulação da linguagem, e lança as bases para a preservação da liberdade cognitiva em um mundo onde a expressão do pensamento é proibida.


 





















Bibliografia

DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes. Tradução Vera Casa Nova; revisão Consuelo Salomé. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011

ORWELL, George. 1984. Tradução de Heloisa Jahn e Alexandre Hubner. Companhia das Letras. 2019.

RANCIÉRE, Jacques. A política da ficção. (2011), trad. J. P. Cachopo, ed. J. F. Figueira e V. Silva, KKYM, 2014.


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